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Ansiedade e sua amplitude
É cada dia mais comum no contexto da psicoterapia e no contexto geral ouvirmos sobre a tão famosa e “indomável” ansiedade, mas afinal de contas o que é?
Ansiedade é uma reação psicológica e fisiológica para lidar com uma ameaça. Normalmente a ameaça é incerta,
desagradável e dura o tempo em que a ameaça está presente, porém até aqui a ansiedade é funcional pois ficar ansioso pode aumentar de maneira benéfica nossa atenção, criatividade e desempenho, um profissional pode se preparar melhor para uma reunião e um aluno pode estudar de forma mais atenta para uma avaliação, obvio que isso depende da proporcionalidade, intensidade e tempo que dura essa ansiedade, nestes casos estamos diante de uma ansiedade ‘funcional’ – útil e necessária, ou seja, uma resposta fisiológica que nos coloca em estado de alerta para lidar com situações de tensão, perigo e risco. Logo se de fato o sujeito está em uma situação de tensão por isso em estado de alerta e se vendo ansioso, ele está coerente com o contexto (funcional), então essa ansiedade deverá durar apenas em quanto a pessoa está sob a ameaça, se essa ansiedade perdurar além do momento ou carregar uma intensidade desproporcional ou ainda aparecer fora de um contexto de uma ameaça real, estaremos sob uma ansiedade disfuncional ou confundindo com angústia, insegurança, timidez e as vezes junto com esses sentimentos.
A ansiedade não se relaciona necessariamente com o uma ameaça futura pois ela pode ser em relação ao Presente no sentido do sujeito se ver ameaçado a não sair de onde ele está ou com o Passado no sentido do sujeito se ver ameaçado a voltar a viver algo traumático, mas comumente a uma ameaça de algo incerto e perigoso que pode acontecer no Futuro.
Mas afinal de contas se ansiedade é uma preparação física e psicológica para lidar com uma ameaça, o que determina uma ameaça? E é ai que vem a necessidade da terapia, do autoconhecimento, da habilidade de conversar com as emoções, pois quem determina o critério da ameaça é o consciente ou o inconsciente, trazer a luz a estrutura desse critério vai trazer a habilidade no sujeito de sair de uma ansiedade disfuncional para uma ansiedade funcional, balizando a intensidade, proporção, clareza e “organizar” os sentimentos e consequentemente sensações físicas (somáticas).
Toda vez que ouço alguém falando de ansiedade logo penso como que é essa ansiedade que essa pessoa está falando, sendo assim podemos pensar que a ansiedade de manifesta de várias formas:
A ansiedade fisiológica sendo um recurso natural, involuntário, orgânico, responsável pela nossa preservação, faz parte do nosso sistema de defesa e do desenvolvimento do ser humano.
se o sujeito vive muito tempo em uma situação aversiva isso cria uma hipersensibilidade no sistema de ansiedade, de forma que qualquer experiencia que ele se depare que apenas pareça com o que ele viveu vai deixá-lo em um estado de ansiedade exemplo: se um sujeito foi agredido por uma pessoa de vermelho na infância ele pode a ficar ansioso quando na vida adulta está com uma pessoa vestindo vermelho, ainda que não se lembre do fato que aconteceu na infância.
A ansiedade mais comum que percebo nos discursos dentro e fora da clínica se traduz por uma pressa, uma ânsia, uma inquietação interior, uma aflição na alma, para que aquilo que supostamente está acontecendo na vida acabe logo e se resolva! Um desejo intenso para que algo aconteça para livrar a pessoa de uma situação que de fato “ainda não aconteceu”, mas que a pessoa já sente como se fosse acontecer. Eu chamo de “fé no fracasso” já que a Fé é sentir e gozar de algo bom que o sujeito crê que vai acontecer, e nesse caso é uma postura construída na dinâmica da vida da pessoa de tal forma que a atividade mental e fisiológica responde esse estímulo psicológico, ou seja, e essa ânsia passa a deturbar, influenciar e em alguns casos mais crônicos determinar o olhar dele para vida, podendo gerar um transtorno de ansiedade.
Para a psicologia ansiedade é que ela é um sentimento e um estado emocional com a qualidade do medo, desagradável, dirigido para o futuro, desproporcional e com desconforto subjetivo (Lewis, 1967). Ou seja, um conjunto de alterações fisiológicas e comportamental que geram uma falta de qualidade de vida.
Nem sempre a ansiedade está necessariamente limitada ao futuro, pois é comum uma pessoa ansiar por sair de uma situação que aconteceu no passado, porém está presente dentro dela no hoje, carregando a ansiedade por não ver e crer que tem saída desse sofrimento.
Então a pessoa a fazer diversas especulações da do que virá e como acontecerá, e essas especulações tendem a distorcer a realidade...
A pessoa que sofre de transtorno de ansiedade generalizada apresenta:
Dificuldade para relaxar;
Sensação de que está no limite do nervosismo;
Tendência a cansar-se com facilidade;
Dificuldade de concentração e frequentes esquecimentos;
Irritabilidade;
Tensão muscular;
Dificuldade para adormecer ou sono insatisfatório;
Preocupação com a possibilidade de doença grave ou acidente embora não existam indicativos de que essas coisas possam vir a acontecer;
Tendência a assustar-se com facilidade e de forma intensa sem motivos justificáveis;
Algumas frases típicas de indivíduos com níveis cronicamente altos de ansiedade:
"Pequenos aborrecimentos me atingem e me irritam."
"Sou muito preocupado e isto me deixa abatido."
"Sempre tenho dificuldades para tomar uma decisão."
"Parece que estou sempre prevendo algo terrível."
"Sinto-me nervoso e agitado todo tempo."
"Penso que não sou capaz de enfrentar minhas dificuldades."
Crise de ansiedade
A crise aguda de ansiedade é uma experiência muito desagradável.
Um sentimento de medo intenso é acompanhado por forte descarga do sistema nervoso autônomo. Pode haver tremor, taquicardia, ruborização, sudorese, palpitações, dispneias, náusea e dispepsia, diarreia e vontade de urinar. Em alguns casos, ocorre a hiperventilação acompanhada de tonturas, parestesia e espasmos musculares.
Algumas vezes surge uma crise sem nenhuma razão aparente; pode ser, em alguns casos, uma intensa reação a um acontecimento perturbador ou pode ocorrer como um sintoma fóbico, em situações tais como lugares fechados ou em meio a multidões.
Um paciente com um ataque de ansiedade pode sentir, no início, somente alguns dos sintomas; por exemplo, pode se queixar apenas de palpitações ou de dispneia.
Pode então procurar socorro médico urgente para o que é considerada como uma nefasta enfermidade física, tal como uma doença cardíaca aguda, e essa interpretação, por si mesmo, tende a exacerbar a ansiedade.
* Os estados mais graves de ansiedade ocorrem muitas vezes em associação com outras formas de doença psiquiátrica.
Transtorno de ansiedade
De acordo com o DSM-5 (diagnostico e estatísticos de transtorno mentais) que é uma espécie de manual das doenças psiquiátricas os e os Transtornos de Ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Os sintomas podem ser divididos em: SINTOMAS SUBJETIVOS, referentes à percepção de sensações desconfortáveis como angústia, inquietação, preocupações excessivas, medo ou pavor; e SINTOMAS FÍSICOS referentes às sensações corporais como aperto no peito, palpitação, falta de ar, náusea, cólica abdominal, transpiração excessiva, tontura, tremores, calafrios ou formigamentos.
TIPOS DE TRANSTORNOS DE ANSIEDADE (DSM-5):
Transtorno de Ansiedade de Separação: envolve ansiedade persistente e intensa sobre se estar longe de casa ou separado de pessoas com as quais a criança tem apego, em geral a mãe. A maioria das crianças sente alguma ansiedade de separação, mas ela em geral desaparece com a idade.
Mutismo Seletivo: é uma fobia que pode se manifestar na escola principalmente entre
crianças de 3 a 6 anos de idade, é um transtorno de ansiedade infantil complexo
que se caracteriza pela dificuldade de um indivíduo se comunicar verbalmente em
determinadas situações sociais.
Fobia Específica: a pessoa vivencia medo ou ansiedade acentuados acerca de um objeto ou situação específica, esforçando-se para evitá-los (ex.: voar, altura, animais, injeção, sangue e ferimentos).
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social): a pessoa vivencia medo ou ansiedade acentuados acerca de situações sociais em que há possibilidade de se expor à avaliação de outras pessoas.
Transtorno de Pânico: a pessoa sofre ataques de pânico recorrentes e inesperados, sem identificar o que desencadeia a crise. Os sintomas mais frequentes durante o taque são: aperto ou dor no peito, palpitações, falta de ar ou sensação de
sufocamento, tontura e formigamentos. É comum que o indivíduo sinta muito medo de morrer, perder o controle ou enlouquecer. Surgem preocupações persistentes sobre novos ataques de pânico ou mudanças ‘mal adaptativas’ do comportamento relacionadas com os ataques (ex.: evitar locais em que sofreu ataques de pânico, evitar lugares com muitas pessoas, não sair de casa desacompanhado, etc.)
Agorafobia: é o medo e a ansiedade de ficar em situações ou locais sem uma maneira de escapar facilmente ou em que a ajuda pode não estar disponível no caso de a ansiedade intensa se desenvolver.
Transtorno de Ansiedade Generalizada: a pessoa se percebe constantemente ansiosa, com preocupação excessivas, frequentes e de difícil controle sobre diversos assuntos cotidianos. Observam-se sintomas físicos e emocionais como inquietude, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular e perturbações do sono.
Transtorno de Ansiedade Induzido por Substância/Medicamento: Ela se caracteriza por ataques de ansiedade
desencadeados a partir do uso de uma ou mais substâncias: anfetaminas, cocaína, heroína, maconha, LSD, álcool, doses concentradas de cafeína, medicamentos, outras substâncias tóxicas.
Transtorno de Ansiedade Devido à Outra Condição Médica: O transtorno é desenvolvido por causa da descoberta (comprovada clinicamente) de uma condição de médica, incluindo diferentes doenças e alterações físicas.
Tratamento
Existem peculiaridades nos transtornos de ansiedade e isto implica em diferenças na forma como cada diagnóstico é tratado, ou seja, a ansiedade da maria é diferente da ansiedade da Marlene, pois cada paciente tem seus gatilhos e suas intensidades de forma única.
De forma geral, é possível afirmar que os resultados mais efetivos e duradouros são obtidos com a associação de tratamento medicamentoso quando o grau de ansiedade do paciente chegou a níveis da ansiedade deixar de ser episódios e momentos e passar a ser crônica e psicoterapia em todos os casos, não deixando de lado a associação aos cuidados fisiológicos e atividade física.
Os medicamentos de primeira linha para o tratamento dos transtornos de Ansiedade são os antidepressivos. Ansiolíticos são eficazes, especialmente nos sintomas agudos, mas devem ser utilizados com muita cautela devido ao risco de dependência. Os antidepressivos são divididos em diferentes classes, com medicamentos que variam quanto à efetividade e efeitos colaterais.
Fármacos de outras classes também podem ser utilizados de acordo com o diagnóstico e caso específico.
O terapeuta deve criar condições em conjunto com o paciente afim de restabelecer o processo de evolução na questão que foi a causa da ansiedade, ou seja, retirar a ansiedade pode atrapalhar o processo de desenvolvimento
natural da pessoa, algumas abordagens da psicologia trabalham na intenção de retirar a ansiedade afim de promover um bem-estar mais rápido para a pessoa, mas, ainda deixando de lado a causa da ansiedade e a habilidade em lidar com ela.
A psicoterapia ajuda a pessoa em sofrimento por ansiedade, criando condições seguras para que ela possa elaborar e reelaborar sua vivência construindo um novo sentido, um novo olhar e consequentemente os níveis de ansiedade caem, dependendo do nível dessa ansiedade esse trabalho será feito em conjunto com outros profissionais como, psiquiatra, nutricionista, educador físico...
Sendo criança ou adolescente esse trabalho deverá ser em conjunto com pais, responsáveis e afins.
Texto de Robson schultz - Psicólogo clínico
Curitiba 24 de Abril de 2024